terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

DISCURSO DE JÚPITER

Discurso de Júpiter

24
"Eternos moradores do luzente
Estelífero pólo, e claro assento,
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento,
Deveis de ter sabido claramente,
Como é dos Fados grandes certo intento,
Que por ela se esqueçam os humanos
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos.

(Eternos moradores do Olimpo: se tendes prestado atenção ao valor dos Portugueses, deveis saber que os fados determinam que a sua fama obscureça a dos antigos impérios. Assírios, Persas, Gregos e Romanos.)

25
Já lhe foi (bem o vistes) concedido,
Cum poder tão singelo e tão pequeno,
Tomar ao Mouro forte e guarnecido
Toda a terra, que rega o Tejo ameno;
Pois contra o Castelhano tão temido,
Sempre alcançou favor do Céu sereno.
Assim que sempre, enfim, com fama e glória,
Teve os troféus pendentes da vitória.

(Com fracas forças, já conseguiram tomar, aos mouros, mais fortes e bem preparados, toda a terra que o Tejo banha. Na luta contra os temíveis castelhanos, sempre o Céu os favoreceu. Alcançaram pois sempre os troféus da vitória.)


26
Deixo, Deuses, atrás a fama antiga,
Que co a gente de Rómulo alcançaram,
Quando com Viriato, na inimiga
Guerra romana tanto se afamou;
Também deixo a memória, que os obriga
A grande nome, quando alevantaram
Um por seu capitão, que peregrino
Fingiu na cerva espírito divino.

(Júpiter continua o seu discurso: não fará referência à antiga fama dos lusitanos, mas recorda as vitórias de Viriato sobre os romanos e a acção de um estrangeiro que eles levantaram como seu capitão.)



27
Agora vedes bem que, cometendo
O duvidoso mar num lenho leve,
Por vias nunca usadas, não temendo
De Áfrico e Noto a força, a mais se atreve:
Que havendo tanto já que as partes vendo
Onde o dia é comprido e onde breve,
Inclinam seu propósito e porfia
A ver os berços onde nasce o dia.

(Agora vedes que, desafiando o mar, por novos caminhos sem temer os ventos, depois de percorrerem várias latitudes do globo,tendem o propósito de navegar até ao Oriente.)


28
Prometido lhe está do Fado eterno,
Cuja alta Lei não pode ser quebrada,
Que tenham longos tempos o governo
Do mar, que vê do Sol a roxa entrada.
Nas águas têm passado o duro inverno;
A gente vem perdida e trabalhada;
Já parece bem feito que lhe seja
Mostrada a nova terra que deseja.

(O destino prometeu-lhes que tenham, por muito tempo, o domínio do Oceano Indico. Suportaram o inverno no mar, e as tripulações estão extenuadas pelos trabalhos da viagem. Parece pois justo que se lhes mostre as terras que desejam – a Índia.)

29
Na viagem tão ásperos perigos,
Tantos climas e céus experimentados,
Tanto furor de ventos inimigos,
Que sejam, determino, agasalhados
Nesta costa africana, como amigos.
E tendo guarnecida a lassa frota,
Tornarão a seguir sua longa rota."

(Júpiter termina o seu discurso: E porque como vistes, passaram tantos perigos, tantos climas, tantos céus, tantos ventos inimigos, determine que sejam bem recolhidos e agasalhados na costa africana, para seguirem viagem depois de reabastecida a frota.E porque, como vistes, têm passados.)

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